Estranhamento
Estranhamento
é o ato de estranhar no sentido de admiração, de espanto diante de
algo que não se conhece ou que não se espera; por achar estranho,
ao perceber alguém ou algo diferente do que se conhece ou do que
seria de se esperar que acontecesse daquela forma; por
surpreender-se, assombrar-se em função do desconhecimento de algo
que acontecia há muito tempo; por sentir-se incomodado diante de um
fato novo ou de uma nova realidade; por não se conformar com alguma
coisa ou com a situação em que se vive; não se acomodar, rejeitar.
Estranhar,
portanto, é espantar-se, é não
achar normal, não se conformar, ter uma sensação de insatisfação
perante fatos novos ou do desconhecimento de situações e de
explicações que não se conhecia. Estranhamento é espanto,
relutância, resistência. Estranhamento é uma sensação de
incômodo, mas agradável incômodo, vontade de saber mais e entender
mais, sendo, pois, uma forma superior de duvidar.
Problematizar
um fenômeno social é fazer perguntas com o objetivo de conhecê-lo:
“- Por que isso ocorre?” “- Sempre foi assim?” “-
É algo que só existe agora?” Por
exemplo: quando hoje estamos frente à questão da violência,
devemos perguntar: “- Houve violência em todas as
sociedades? Como era a violência na antiguidade? Em outros países,
há a violência que vemos em nosso cotidiano? Há um só tipo de
violência? Quais as razões para tais e quais tipos de violência?”
Estranhar
situações conhecidas, inclusive aquelas que fazem parte da
experiência de vida do observador, é uma condição necessária às
Ciências Sociais para ultrapassar, ir além, das interpretações
marcadas pelo senso comum.
Desnaturalização
É
muito comum no nosso cotidiano ouvirmos a expressão: “-
Isso é natural.” Esta
expressão nos remete à ideia de algo que sempre foi, é ou será da
mesma forma, imutável no tempo e no espaço. Em consequência, é
por isso que também ouvimos expressões como: “-
É natural que exista a desigualdade social, pobres sempre
existirão.”
Assim, as pessoas
manifestam o entendimento de que os fenômenos sociais são de origem
natural, nem lhes passando pela cabeça que tais fenômenos são, na
verdade, constituídos socialmente, isto é, historicamente
produzidos, resultado das relações sociais.
Para
desfazer esse entendimento imediato, um papel central que o
pensamento sociológico realiza é a desnaturalização
das
explicações dos fenômenos sociais. Há uma tendência sempre
recorrente de se explicarem as relações sociais, as instituições,
os modos de vida, as ações humanas, coletivas ou individuais, a
estrutura social, a organização política com argumentos
naturalizadores. Primeiro, perde-se de vista a historicidade desses
fenômenos, isto é, que nem sempre foram assim; segundo, que certas
mudanças ou continuidades históricas decorrem de decisões, e
essas, de interesses, ou seja, de razões objetivas e humanas, não
sendo fruto de tendências naturais.
Procurando fazer
uma ponte entre estranhamento e desnaturalização, pode-se afirmar
que a vida em sociedade é dinâmica, em constante transformação;
constitui-se de uma multiplicidade de relações sociais que revelam
as mediações e as contradições da realidade objetiva de um
período histórico.
Nesse sentido, a
superação do senso comum para uma análise mais crítica e
criteriosa da sociedade é um dos objetivos da sociologia no ensino
médio: propiciar aos jovens o exame de situações que fazem parte
do seu dia a dia de modo mais investigativo. Superar a aparência
imediata e despertar no aluno a sensibilidade para perceber que o
mundo a sua volta é resultado da atividade humana e, por isso mesmo,
passível de ser modificado.
Referência
bibliográfica:
MORAES,
Amaury César. (Coord.) Sociologia:
ensino médio.
Brasília : Ministério da Educação, Secretaria de Educação
Básica, 2010.